Primeiro herói negro do RS: Saiba quem foi “Zumbi dos Papas”

Nos idos dos anos 1830, na cidade de Pelotas, vivia Manuel Padeiro, uma figura emblemática que liderou um dos mais significativos levantes de africanos escravizados em todo o Estado. Esse líder rebelde se tornou uma referência secular para a comunidade negra local, que se autodenomina “a princesa do Sul”.

Ao lado de cerca de nove companheiros, incluindo figuras notáveis como Mariano, Pai João e a marcante Preta Roza, uma africana que desafiava as convenções sociais vestindo roupas masculinas e ostentando dois facões cruzados na cintura, o “general” Manoel Padeiro adentrava fazendas e charqueadas da região, buscando libertar seus irmãos negros da condição de trabalho forçado. Inspirado pela atitude de Zumbi dos Palmares em Pernambuco, ele fundou uma série de quilombos entre riachos e matagais da Serra dos Tapes, nos arredores de Pelotas, oferecendo refúgio para aqueles que, assim como ele, se rebelavam contra o sistema vigente na época.

Relembrando a escravidão no Rio Grande do Sul: A história de Manoel Padeiro

Naquela época, o charque era o pilar da manufatura econômica, e a mão de obra escrava era o alicerce do bem-sucedido modelo econômico reverenciado nos registros históricos nos últimos 200 anos. No entanto, a história de resistência e bravura de Manuel Padeiro e seus companheiros desafia essa narrativa.

Apesar do Rio Grande do Sul ter sido palco de uma das escravaturas mais violentas do Brasil, poucas páginas foram dedicadas a detalhar esse período na história do Estado, especialmente na região de Pelotas. Essa lacuna é apontada pelo historiador Cauiá Cardoso Al-Alam, professor da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e especialista em história social da escravidão. Ele é um dos autores do livro “Os Calhambolas do General Manoel Padeiro: Práticas Quilombolas na Serra dos Tapes” (Editora Oikos).

A historiografia por muito tempo romantizou a ideia de que a lida campeira no Rio Grande do Sul não utilizava mão de obra escrava, criando uma identidade idealizada do gaúcho. No entanto, o estudo da história revela que a escravidão no Estado foi marcada por uma violência contundente. Assim, revisitar a história de Manoel Padeiro e seu coletivo quilombola é essencial para compreender a conexão do Rio Grande do Sul e Pelotas com o sistema escravista do país.

Manoel Padeiro é uma figura emblemática, mas informações precisas sobre ele são escassas. A maior parte do conhecimento sobre sua história vem de fontes repressivas, exigindo um olhar crítico e problematizador. Sabe-se que Padeiro e seu grupo de quilombolas representaram uma ameaça real para o sistema escravista da região e são lembrados na oralidade do povo negro local. No entanto, a origem exata de Manoel Padeiro e o significado de sua alcunha permanecem um mistério.