Relembre casos em que PM´s mataram civis e foram condenados em SP

Fernando Ramos da Silva, o Pixote, Ives Ota e Mário Jozino
Fernando Ramos da Silva, o Pixote, aos 19; Ives Ota, aos 8 e Mário José Jozino

Com a condenação a cumprir 156 anos, em regime fechado, de 23 dos 26 PM´s que respondem nesta primeira fase ao Massacre do Carandiru, outros casos envolvendo atitudes de policiais militares contra civis na cidade de São Paulo veem à tona na crônica policial. O Infodiretas relembra três casos que mudaram em algo a rotina dos tribunais, dos PM´s e a vida dos familiares. Entre as narrativas estão de um ator destaque internacional e de uma criança.

Fernando Ramos da Silva, o Pixote – 25/8/1987

Em 1981, Fernando Ramos da Silva, o Pixote, com 12 anos, foi destaque ao interpretar o filme Pixote, a Lei do Mais Fraco, de Hector Babenco. Menino pobre, de um bairro periférico de Diadema, Fernando foi destaque nacional e internacional por sua exibição no filme. Logo após, foi chamado para fazer novela. Sem estudo, nunca mais foi convidado, o que acarretou em sérios problemas em sua vida. Foi preso a primeira vez aos 16 anos, após roubar uma TV e um rádio. Sonhando em voltar à TV e ao cinema, encontrava as portas fechadas por não se dedicar as oportunidades e principalmente aos cursos. Em 25 de agosto de 1987, aos 19 anos, foi executado com 8 tiros, na Rua 22 de Agosto, 6, no Jardim Canhema. Os tiros partiram de um sargento e dois soldados do 6º Batalhão de São Bernardo, município vizinho à Diadema. Condenados a 6 anos de prisão e demitidos da PM, de início sustentavam que Fernando teria roubado uma fábrica e resistido armado. Contestados por testemunhas e pela perícia, confessaram a farsa e que, plantaram a arma. Não ficaram um dia sequer na cadeia.

Mário José Jozino – 7/3/1997 

Exatos 10 anos após o crime de Pixote, a PM de Diadema se viu em mais uma enrascada, desta vez, em uma blitz realizada em 7 de março de 1997. Dez PM´s entre oficiais e praças realizavam ronda na região da Favela Naval, quando cenas de espancamentos, humilhação e um homicídio foram flagrados pela lente de um cinegrafista amador. Três homens estavam em um veículo modelo gol, ao serem abordados pelos soldados foram obrigados a ficar de costas com a mão na cabeça, para a revista. Os rapazes que voltavam de um simples jogo de futebol, foram agredidos com socos e tapas nos rostos, além de espancamentos com cassetetes, que eram desferidos principalmente na palma das mãos e sola dos pés. Após as cenas de barbárie, uma pior ainda estaria por vir. O então soldado Otávio Gambra, o Rambo, mira seu revólver calibre 38 na parte traseira do carro, já em movimento. Sem nenhum motivo aparente, dispara um único tiro que, acerta as costas de Mario José Jozino, ocupante do banco traseiro. Levado por seus amigos ao PS de Diadema, o mesmo a qual os homens da Veraneio 6374 levaram Fernando Ramos da Silva, há dez anos atrás, ele também não resiste. Com as imagens sendo exibidas à exaustão nas TVs de todo Brasil, Rambo e mais oito PM´s  do 24º BPM são indiciados e expulsos da corporação pela morte do conferente Mario José Jozino. Rambo cumpriu até 2004 sua pena de 47 anos, hoje, é um homem livre.

Ives Ota – 29/8/1997

No dia 29 de agosto de 1997, desta vez na zona Leste, no bairro da Vila Carrão, a família Ota sentiu na pele o que as mães sentem em bairros pobres de São Paulo. A cobiça e a inveja foram o principal ingrediente no sequestro e assassinato de Ives Ota, 8 anos, que neste pouco tempo de vida, pode presenciar a raiva e ódio. Seu pai, um comerciante, resolveu contratar para segurança da família PM´s que faziam bicos para complementar o miserável salário pago pelo governo. Vendo a prosperidade de seus patrões orientais, acharam que tinham conseguido uma verdadeira mina de dinheiro. Com um ramalhete de flores, abordaram a empregada. Ao abrir o portão para a retirada da encomenda foi rendida sob a mira de uma pistola. Dentro da residência, o plano traçado começou a mudar, o mandante do crime o soldado Dantas, tomou as rédeas e sequestrou o pequeno Ives.

A inocência de uma criança selou o destino da morte. “Oi tio, você é o segurança do meu pai né?”, o que seria uma forma de relaxar, já que o pequeno garoto se assustara com os gritos, para o soldado era uma ameaça, não poderia entregar a criança mesmo com o pagamento dos US$ 800 mil exigidos pelo resgate. Em conversa com o seu comparsa e também PM Souza, além de um motoboy, o mesmo da falsa entrega do ramalhete, resolvem ali, como juízes de apelação, tirar a vida de Ives ainda naquela tarde de sexta-feira. Ao ser reconhecido pelo menino, o soldado Dantas ordenou que o motoboy matasse o garoto. Ives tomou uma mistura de leite, achocolatado e calmante, enquanto adormecia, os criminosos cavaram um buraco embaixo do berço do filho recém nascido do motoboy, ao ser jogado na rasa cova, Ives recebeu dois tiros na cabeça, sendo enterrado ali mesmo. Desconfiada do buraco, a mulher do motoboy o apertou, sem saída, confessou o crime e delatou os comparsas. Além da morte de Ives, seu Ota ainda teve que conviver com a traição daqueles que um dia os ajudou, dando emprego e subsidiando a vida. Pela morte do garoto todos foram julgados e condenados a 45 anos de prisão. Hoje, a mãe de Ives, Keiko Ota é deputada federal e Massataka Ota, vereador, ambos pelo PSB de São Paulo.