Da Colônia Africana à periferia de Porto Alegre: a trajetória da remoção dos negros

No contexto de Porto Alegre, o racismo se revela de maneira evidente ao analisarmos aspectos históricos que moldaram a cidade tal como a conhecemos hoje. Um exemplo notável é a remoção da população negra para áreas periféricas, afastadas do centro urbano. O Bairro Colônia Africana emergiu no final do século XIX, como resultado da concentração de territórios ocupados por pessoas que haviam sido escravizadas.

No entanto, muitos só conhecem essa região pelo nome de Bairro Rio Branco. Essa alteração não foi meramente coincidência: após uma gradual onda de imigração, a prefeitura decidiu oficializar a mudança de nome para “branquear” a denominação, em 1959. Curiosamente, ao pesquisar “Colônia Africana” no Google, todas as sugestões corrigem o termo para “Bairro Rio Branco”.

“A formação da Colônia se deu com a desagregação de uma sociedade que só via o negro como posse”, explica o pesquisador Marcus Vinicius de Freitas Rosa.

Em tempos passados, as fronteiras do Centro delineavam a periferia. Em um cenário rural e sereno, os libertos encontraram a chance de estabelecer uma comunidade que lhes pertencesse verdadeiramente. Foi assim que uma sociedade peculiar começou a florescer, rompendo com os padrões tradicionais.


A descoberta da Colônia Africana: Entre histórias de fantasma e resistência cultural

Através de crônicas históricas encontradas em periódicos da época, Marcus revelou a existência da Colônia Africana. Em um desses relatos, descobriu-se a história de um homem que assustava os moradores ao se vestir de forma amedrontadora. Com o tempo, ele foi preso em sua própria casa, revelando um local de culto repleto de imagens e referências religiosas. Esse homem era um pai de santo.

Nesse período, as religiões de matriz africana eram perseguidas e um padre local era conhecido por destruir símbolos deixados nas ruas relacionados a essas religiões. A resistência cultural e religiosa dos negros era vista como uma ameaça à hegemonia do catolicismo.

A exclusão e discriminação enfrentadas pelos negros levaram à formação da Colônia Africana como um refúgio para a comunidade negra em Porto Alegre. Sem acesso aos clubes de dança e enfrentando estigmatização, os moradores da Colônia criaram suas próprias instituições para atender às suas necessidades diárias e fortalecer sua identidade cultural.

No final do século XIX e início do século XX, a substituição da mão de obra escrava pela imigração europeia em Porto Alegre trouxe tensões raciais e disputas por moradia. Apesar de compartilharem a pobreza, registros policiais da época mostram que brancos e negros enfrentavam uma grande rivalidade na busca por moradias.

A cor da pele era um critério determinante, levando a solicitações de expulsão de negros e a uma série de adjetivos depreciativos. A ação do poder público e da polícia na perseguição às habitações pobres e cortiços agravou ainda mais a situação, criminalizando a população negra. Essas tendências de marginalização e segregação persistem até os dias atuais, mesmo que nem sempre sejam óbvias ou discutidas abertamente.

Fonte: Sul21

Imagem: Depósito do Maia